Estive conversando com uma amiga que não vejo há muito tempo. Italiana, pintora excepcional, Anna Dorsa. Tem obras lindíssimas, criativas e interessantes. Conversa vai, conversa vem, me mandou a foto de seu último trabalho, “PAROLE AL VENTO” (Palavras ao vento). Observando o quadro, me pus a pensar…
O vento, com sua dança invisível e constante, carrega o som e o silêncio. Quando dizemos que algo são palavras ao vento, é exatamente a essa dança que nos referimos, a uma conversa que não encontra morada, a uma semente que não germina.
Imagine o som das suas palavras. Elas são como folhas leves, soltas no ar. Se não houver uma mão para apanhá-las, um solo para acolhê-las, elas seguirão seu rumo, levadas pelo sopro.
É uma metáfora para a falta de atenção, a ausência de resposta ou a inutilidade de um discurso. É a promessa feita e esquecida, o conselho dado a quem não quer ouvir, o desabafo que se perde na indiferença. A voz se faz presente, mas a mensagem se esvai, sem eco, sem peso, sem efeito.
Assim, palavras ao vento são a essência do que é inútil ou vazio. Um grito no deserto que ninguém ouve. Uma declaração que ninguém valoriza. São palavras que não criam pontes, não constroem laços, não transformam nada. Elas se dispersam, deixando apenas o vazio e o silêncio para trás, como um eco fugaz que se dissolve na imensidão.
Existem palavras que nascem com peso, com um destino claro e uma intenção definida. São como pedras lapidadas, prontas para construir pontes, erguer muros ou marcar um caminho. No ndo-se, de forma quase imperceptível, meras “palavras ao vento”.
São os “te ligo depois” que facilmente se apaga da memória, os “vai dar tudo certo” que o medo não consegue calar, os “passa lá em casa” sem a força de um convite ou os “eu te amo”, sem o valor do sentimento… Têm a suavidade da brisa, mas também a sua efemeridade. Não ficam, não se fixam, apenas passam.
Muitas vezes, as palavras ao vento são a nossa maneira de aliviar a alma. Uma forma de despejar o que nos oprime sem a expectativa de uma solução imediata. É um grito mudo que o universo ouve e, de alguma forma, acolhe.
No entanto, em outras ocasiões, elas revelam a superficialidade das nossas interações. São a prova de que nem tudo o que dizemos tem a intenção de ser ouvido, compreendido ou levado a sério. E talvez isso nos ensine algo sobre o poder e a responsabilidade de cada palavra que escolhemos. Elas podem ser tanto a âncora que nos prende à realidade, quanto a asa que nos liberta para o desconhecido.
No fim, a natureza das palavras ao vento não é a de serem ditas, mas sim a de serem sentidas. Elas existem não para o outro, mas para quem as diz, como um sopro de vida que se solta do peito para encontrar a liberdade na imensidão do ar.
Col.: Pilar Arias (Pile Maracaju)










