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Crônica de uma noite junina

Noite fria! Em volta da fogueira com altas labaredas, crianças e adultos procuram se aquecer do vento que roça a face e deixa as mãos congeladas, havendo até quem não se canse de pulá-la.

A casa, toda iluminada e de portas abertas, exala o cheiro do quentão que logo mais será servido aos convidados para a reza do terço aos três santos homenageados.

Sobre a mesa colocada num canto da sala, coberta por uma toalha branca, encontra-se, ornamentado pela luz de velas, o estandarte de pano com a imagem dos santos juninos.

Os donos da casa não escondem a alegria pelo momento vivenciado e, enquanto não chega a hora marcada para o início da reza, vão jogando conversa fora com o compadre, a comadre e os amigos, que já começam a lotar a sala. Lá fora, as crianças se divertem soltando traques, girando fósforos coloridos e jogando estalinhos nos pés dos distraídos, que se assustam com o estouro.

O “puxador da reza” acaba de chegar, cumprimenta todo mundo, consulta o relógio, pede silêncio total e, então, dá início ao terço, que, entre um mistério e outro, é abrilhantado por cantos que passam de geração em geração.

Termina a reza. Cuidadosamente, o estandarte é retirado da mesa para, em procissão, ser levado ao local em que, decorado por bandeirinhas e balõezinhos multicoloridos, será erguido ao mastro. Todos querem tocá-lo e beijá-lo. Enquanto a pequena procissão caminha, os devotos, em meio a estampidos de rojões e bombinhas, cantam: “Santo Antônio disse a missa / São João benzeu o altar / São Pedro está chamando / quem quiser venha beijar”.

                        Fincado o mastro, o pessoal volta para a sala. É hora de comer e beber, ao som de músicas juninas na vitrola. Pipoca, arroz-doce, canjica, milho cozido, bolo de fubá, pé de moleque, amendoim torrado, doce de batata-doce, quentão, vinho quente e tantas outras delícias põem fim ao evento, na certeza de que no ano seguinte a festa se repetirá.

Sim, eram assim as noites juninas de nossos pais, avós e de muitos de nós que ainda estamos por aqui para perpetuar tão gostosa lembrança. Por mais simples que fossem os lares, esses momentos sagrados eram ansiosamente esperados e, por isso, não se abria mão da demonstração de devoção aos santos Antônio, João e Pedro.

Como seria bom se nossos filhos e netos pudessem viver uma noite junina como a aqui narrada. Com certeza, sentiriam a mesma emoção que habitavam nosso ser. Mas, infelizmente, esse sonho é impossível de ser realizado, até porque, por vivermos num tempo em que nem mesmo as noites de junho são tomadas pelo frio de outrora, apagou-se, para sempre, a fogueira que aquecia o nosso corpo, principalmente o coração, que batia feliz por estarmos ao lado de pessoas tão queridas e que, em sua maioria, não mais estão entre nós!

Santo Antonio, São João e São Pedro, rogai por nós!

Col.: Francisco Bueno