Um brinde ao Sr. Oleno Bastos

Cheguei à conclusão de que durante a trajetória de nossas vidas, às vezes não percebemos o quanto uma pessoa, que não é propriamente de sangue da família, faz parte da construção da nossa história por muitos anos, às vezes pela vida toda, como, por exemplo, o senhor Oleno e o eterno amigo Zé Boccardo, que agora vão se reunir no céu, fizeram na minha vida.
Tudo começou com minha primeira viagem, minha primeira vez na praia, aos 6 anos, em Caraguatatuba, na casa do Boi Varotti, onde os amigos Oleno, Zé Boccardo (ele me levou), Dr. Dirceu, Mário Caldiron, e, claro, o anfitrião, Boi Varotti, passavam as férias. Minha próxima lembrança são as idas ao Ipê Tenis Clube, onde entrei, pela primeira vez, em uma piscina, nas costas da querida Zezé Boccardo, e outras vezes na piscina da casa do Dr. Dirceu, quando sua querida esposa, Marlene, a qual tive a alegria de tê-la como professora no parquinho infantil, nos recebia de braços abertos.
Tempos depois, quando eu já estava com 25 anos e ajudava o meu pai no “Bar do Lira”, eles voltam a fazer parte da minha história, dessa vez frequentando por mais de uma década, de segunda a sexta-feira, o nosso bar, que cessou as atividades em 2005 quando abri outro negócio, a “Vó Carmella Cantina”, que durou mais 10 anos. Até 2015, era sagrado, todo sábado, depois de ir à missa com a família, ele levava todos para comer uma pizza e tomar a sua cerveja.
O senhor Oleno sempre foi muito educado, gentil, respeitoso, de fala mansa, sempre com um bom conselho a dar, assim como fez depois da primeira disputa por uma cadeira na Câmara Municipal, nas eleições de 1996, quando fiquei de suplente e obtive, naquela ocasião, 153 votos. No dia seguinte, ele chegou para mim e disse: “Dirso (ele e o Zé Boccardo me chamavam assim por conta do Edilson), parabéns!” Eu respondi: “Parabéns por quê?” Ele falou: “Parabéns, porque você foi muito bem votado, tem futuro, a maioria dos candidatos não consegue 100 votos e você conseguiu 153”. Isso me fez pensar, analisar e montar estratégia para que na eleição seguinte eu chegasse à primeira vitória, dobrando o número de votos, e, assim, fui, por 16 anos consecutivos, vereador, chegando a ser presidente da Câmara.
Eu respeito e acho justas as homenagens pós-vida, e assim devem fazer o Rotary Club, Santa Casa, Câmara Municipal, Prefeitura, Esporte Clube Palmeirense, entre outros, porém, ainda defendo as homenagens em vida e, por isso, tenho muito orgulho de ter sido o autor do projeto que concedeu o título de Cidadão Palmeirense ao senhor Oleno. Lembro-me que durante meu discurso dirigido a ele citei uma frase que ele sempre dizia: “Tenho medo de urna: a urna da eleição e a urna de morrer.” Todos os presentes, inclusive ele, deram muitas risadas. Após a cerimônia, Dr. Dirceu veio me cumprimentar pelo discurso, o que me deixou muito envaidecido, e me disse: “O melhor discurso é aquele que sai do fundo do coração”.
Muito obrigado, senhor Oleno, por todos os ensinamentos. Apesar de nunca ter tido um mandato de vereador ou de prefeito, com certeza porque nunca disputou por ter medo das urnas, era um apaixonado por Política, fazia muita Política à sua maneira, pois Política a gente faz até dentro de casa, e o exemplo seu é notório ao se dedicar, de corpo e alma, ao ECP, ao Rotary, sendo Provedor da Santa Casa, enfim, um grande exemplo a ser seguido. Além disso, não posso deixar de citar a sua maneira de ser: gentil, educado, elegante, adorava um bom papo, gostava de estar rodeado de pessoas. São esses exemplos que estarão em minha memória, ainda mais no mundo virtual que vivemos hoje, onde as pessoas preferem conversar por mensagens.
O velório mostrou o quanto o senhor era querido e respeitado, muita gente fazendo questão de estar presente, pessoas que vieram de outras cidades, e outras tantas que, por algum motivo, não puderam estar presentes, aliás, o senhor sempre fez questão de também estar presente em muitos velórios, confortando as famílias em luto, e nada mais justo que muita gente fosse retribuir com calor humano aos seus familiares, e o velório terminou com seu último desejo: o caixão rodeado de amigos com um copo de whisky na mão e um brinde ao senhor Oleno, com uma calorosa salva de palmas.
Vá em paz, vá encontrar a sua amada esposa, Dedé, e seus amigos do Bar do Lira: Zé Boccardo, Mané Pedra, Zezão Silva e Rick da São João.
A todos vocês que se foram, fica a gratidão da minha família por terem frequentado o nosso estabelecimento comercial, todos vocês ajudaram a sustentar nossa família. Como o senhor é o último da diária e fiel turminha a se despedir da gente, leve, por favor, um enorme beijo a todos: meu, dos meus pais e das minhas irmãs.
Uma singela homenagem de Edilson Luís Voltarelli (Lira ) e família.

Compartilhe:
Share on Facebook
Facebook