Aprendizado tardio

 

Na edição nº 958, de 23.02.2018, pág.6, deste Jornal, foi publicada a crônica “Um momento no tempo”, de nossa autoria, lamentando como a rapidez do tempo nos envelhece, digamos assim, precocemente, a ponto de não nos darmos conta de que o fim de nossa existência já teve início.

Pondo-nos em reflexão, percebemos, no apagar das luzes, que a felicidade sempre esteve presente nas coisas mais simples da vida e não no status social, no carro novo, na casa bonita e em tantos outros prazeres efêmeros.

Pior de tudo é sentir que furtamos preciosos momentos do nosso próprio tempo para dá-los a quem nunca os mereceu. É bem verdade que o mandamento divino nos diz para amar  ao próximo como a nós mesmos, o que implica afirmar que se devemos ter tempo para o próximo a fim de demonstrar-lhe o nosso amor, devemos, também, ter tempo para nós mesmos, objetivando buscar formas de dar paz ao nosso próprio “eu”, e, obviamente, a paz, que é o que todas as pessoas de bem almejam, nasce do amor.

O poema que agora publicamos tem tudo a ver com a crônica mencionada. Todavia, cumpre-nos esclarecer que a mensagem que pretendemos passar não é, de forma alguma, no sentido de que não devemos nos doar aos outros, mas, sim, no sentido de que devemos nos doar muito a nós mesmos, sob pena de anulação do próprio ego. Para muitos de nós, isso é um

Aprendizado tardio

As horas passam numa incrível velocidade/ que nem notamos a manhã fazendo-se tarde!/ É que passamos a vida toda correndo como loucos,/ doando-nos muito aos outros e a nós tão pouco!

Não percebemos a flor que nasce em nosso jardim/ nem o tempo acenando que teve início nosso fim!/ É que passamos a vida toda correndo como loucos,/ doando-nos muito aos outros e a nós tão pouco!

Raios dourados, ardentes, brilham na imensidão/ e nem nos importamos com os belos dias de verão!/ É que passamos a vida toda correndo como loucos,/ doando-nos muito aos outros e a nós tão pouco!

Vem o outono e não apreciamos o sabor dos frutos,/ e, de repente, a morte de um filho nos põe de luto!/ É que passamos a vida toda correndo como loucos,/ doando-nos muito aos outros e a nós tão pouco!

Finalmente, nosso corpo é tomado por noites frias/ e lamentamos ter valorizado só o que não devia!/ É que passamos a vida toda correndo como loucos,/ doando-nos muito aos outros e a nós tão pouco!

E eis que quando a vida está prestes a findar-se/ assustamos ao ver no espelho a envelhecida face!/ É que passamos a vida toda correndo como loucos,/ doando-nos muito aos outros e a nós tão pouco!

Sem tempo para fazer o que não fizemos lá atrás/ só resta esperar que Deus, agora, nos dê a paz!/ É que passamos a vida toda correndo como loucos,/ doando-nos muito aos outros e a nós tão pouco!

Tardiamente aprendemos que a verdadeira felicidade/ está em tudo aquilo que se reveste de simplicidade,/ não precisando passar a vida correndo como loucos,/ doando-nos muito aos outros e a nós tão pouco!

Francisco Bueno

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