Que atire a primeira pedra quem nunca, em algum momento da vida, ficou bravo com o Brasil. Um país que poderia ser o melhor lugar do mundo para se viver não fosse à ganância, a prepotência e a falta de honestidade de seus governantes.
Por conta disso, falamos mal do país quando, na verdade, deveríamos maldizer somente aqueles que o têm destruído. Mas, por mais que praguejemos contra o Brasil, nosso amor por ele é imenso.
Em nosso território acontecem coisas imagináveis e inimagináveis e talvez seja por isso que o poeta Djalma Andrade (1894-1977) retratou tão bem a alma do brasileiro neste poema que tem por título
Brasil Atrapalhado
A gente fala, protesta:/ –Nesta terra nada presta./ O povo é lerdo, indolente…/ É a farra, ninguém trabalha,/ A peste, a pátria amortalha/ Sob o sol rude, inclemente…
A lei é mito, pilhéria…/ Ninguém liga a coisa séria,/ Não há remédio, é da raça…/ A vida se desbarata:/ O pinho, a cuíca, a mulata,/ O amarelão, a cachaça…
A gente murmura, fala./ Velhos defeitos, propala/ Em língua rude e vil:/ É a terra pior do mundo!/ Mas no fundo, bem no fundo,/ Quanto amor pelo Brasil!
Tudo da boca pra fora!/ Porque, cá dentro, ele mora/ Cá dentro é que a gente o sente…/ Meu Brasil atrapalhado,/ Meu Brasil confuso e errado, Você vê que o povo mente.
Você vê que a gente grita,/ Mas vê também que é infinita/ Esta paixão por você…/ Se a Bandeira levanta,/ Lá vem o nó na garganta,/ E você sabe por quê…
Você sabe e não se importa/ A nossa injúria suporta/ E o nosso labéu também…/ Deixe que xingue, que bata,/ A gente fere e maltrata,/ Quase sempre, a quem quer bem.
Meu Brasil, aqui baixinho,/ Ouça, sou todo carinho,/ E a minha alma você vê…/ Qualquer perigo que corra,/ Se for preciso que eu morra,/ Eu morrerei por você. (Francisco Bueno)