Fiéis prestam homenagem a Santa Eufrosina

Grande número de fiéis católicos esteve reunido na Capela que leva o nome da Santa, localizada em uma fazenda no município de Pirassununga, para homenageá-la pelos 135 anos do falecimento da menina Eufrosina, ocorrido no mês de novembro de 1864.
A comemoração ocorreu na tarde do último domingo, 22, com uma Missa em Ação de Graças, celebrada pelo padre Antônio Marcos, da Paróquia Santa Luzia, de Pirassununga.
Col. Antonio Felippe
História de Santa Eufrosina
Poucos conhecem esse importante acontecimento ligado à fé popular de Pirassununga, de grande repercussão para a época, ocorrido em meados do século XIX, na região de Cachoeira de Emas.
É a história (..) de vida e de morte da menina Eufrosina, acometida pela lepra (hanseníase), que vivia isolada numa choupana, deformada pelas feridas, que tomavam conta de seu corpo. A doença infectocontagiosa atacava a pele, os olhos e os nervos, e excluía os seus portadores do convívio social. A sequência e os desdobramentos dos fatos merecem a atenção de todos nós que amamos esta terra Curimbatá.
Eufrosina nasceu em Pirassununga no ano de 1864, no Bairro Campo Alegre, região de Cachoeira de Emas. Filha de pais portadores da hanseníase (lepra), aos quatro meses foi abandonada num pasto pela mãe.
Um casal a adotou, até que a doença nela se manifestasse, aos 6 anos de idade. Para melhor protegê-la, o padrinho construiu um rancho à beira da estrada, entre Cachoeira de Emas e Santa Cruz das Palmeiras.
A menina vivia trancada e despida, à espera de água e comida. Quando tudo lhe faltava, se alimentava de larvas e insetos e dividia num cocho o sal grosso com o gado. Para espantar o medo, rezava e cantava hinos religiosos. Eufrosina tinha dois irmãos, também portadores da doença, que sobreviviam de esmolas. Aos 12 anos, a hanseníase já havia desfigurado a menina.
Morte e ressureição
Segundo relatos, Eufrosina teria morrido aos 16 anos. O pai adotivo, ao encontrá-la sem vida, estendeu seu corpo sobre um estaleiro e saiu à procura dos irmãos para dar-lhes a notícia. Ao regressarem, o susto: estava viva e curada da lepra.
A notícia logo se espalhou e atraiu centenas de pessoas ao local. Ao padrinho e aos irmãos, Eufrosina explicou que “voltou” graças a uma “Licença Divina” de 23 dias de vida que recebeu. Contou que tinha sido “devolvida” por não ter cumprido sua missão, já que havia lhe faltado humildade: tinha vergonha de pedir esmolas. Contou, também, que havia “retornado” para revelar episódios que iam acontecer e que todos deveriam saber.
Profecias
Aos 16 anos, sem qualquer instrução, comovia a todos ao citar fatos “assombrosos” que iriam ocorrer. Em 1880, previu no seu linguajar as guerras mundiais (1914/18 e 1939/45), e que uma doença acabaria com o gado (febre aftosa).
Antecipou o surgimento de carros e aviões, ao dizer que as carroças andariam sem animais e que o homem ia voar. Falou, também, que as mulheres usariam calças compridas e se comportariam como homens.
Adiantou que, logo após a sua morte, as pessoas ali presentes, ao retornarem aos seus lares, encontrariam poças d’água cheias de peixes vivos, que deveriam ser levados como alimento para suas casas.
Aqueles que conheceram Eufrosina e testemunharam os fatos, contaram aos seus filhos e esses aos seus netos e tataranetos, que as profecias se concretizaram.
Segunda morte
Completados os vinte e três dias da “Licença Divina” que recebera, Eufrosina morreu na hora marcada, à vista de muitas pessoas. Decidiu que seria enterrada em Santa Cruz das Palmeiras, porque o padre de Pirassununga lhe fazia pesadas críticas pelo fato de reunir centenas de fiéis que a procuravam em busca de milagres. Em seu túmulo, em Santa Cruz das Palmeiras, milhares de fiéis acenderam velas, pediram e alcançaram curas.
Com o crescimento da cidade, a área onde estava instalado o primeiro cemitério de Palmeiras acabou sendo loteada. Porém, o único jazigo preservado daquela necrópole foi o de Eufrosina. A família que adquiriu o lote onde ficava o jazigo, por respeito e devoção, preservou o local que lá está até hoje.
Santa Eufrosina
Os moradores da região do Bairro Campo Alegre contavam que ouviam Eufrosina cantar todas as noites. Como forma de homenageá-la, no ano de 1910, ergueram no local uma orada de taipa que, anos depois, fora substituída por outra de alvenaria.
A Igreja Católica ao ali se instalar denominou a igrejinha existente de “Capela de Santa Eufrosina”, referindo-se a Santa Eufrosina, monja que viveu no século V, em Alexandria, canonizada pelo Papa. A escolha da padroeira do bairro foi inspirada na santidade que as pessoas conferiam à menina Eufrosina.
Milagres
Muitos milagres foram atribuídos a Eufrosina. Mesmo com o passar dos anos, o culto piedoso em torno dela se mostra vigoroso nos dias atuais. Em décadas passadas, inúmeras meninas, ao nascerem, receberam o nome de Eufrosina, em agradecimento a alguma graça alcançada pelas famílias, por intercessão da menina santa.
Num túmulo simbólico construído em 1969 pela família Furlan, ao lado da capela, os devotos nunca deixaram de rezar, de acender velas e fazer pedidos. Hoje, a capela está sendo aos poucos restaurada. Numa pequena sala, atrás do altar, restaram poucas fotos, muletas e objetos deixados pelos féis que alcançaram graças. Das pequenas edificações que existiam no entorno da capela – entre eles a “sala dos milagres” – só restaram ruínas. Devido à ação de vândalos, não mais existe energia elétrica no local. Comenta-se que a família Pavani, proprietária da área onde está a capela, teria intenções de restaurar a capela, que no passado, no dia 25 de setembro, centenas de fiéis ali se reuniam todos os anos para celebrar a Festa de Santa Eufrosina, com novenas, missas, procissões, leilão de prendas e a presença encantadora da Corporação Musical Pirassununguense.
Que tal compartilharmos a todos nossos amigos do Facebook essa tão rica história? Não podemos deixar “morrer” esse extraordinário episódio, que comoveu, inspirou, fortaleceu a fé de inúmeras gerações. Isso é história!
Nota – O texto acima, que ganhou destaque durante a realização da Semana Nenete de Música Sertaneja de 2010, foi baseado na matéria “História da Santa Eufrosina”, do pesquisador e professor Manuel Pereira de Godoy, publicada no Jornal O Movimento no ano de 1966. Ouvimos, também, vários moradores de Pirassununga, Cachoeira de Emas e Santa Cruz das Palmeiras que, baseados em relatos de seus antepassados, ajudaram a esclarecer pontos importantes que estavam confusos. Nossos agradecimentos a todos que colaboraram.
Relato: Roberto Bragagnollo / Rede Social

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