Quem conhece esse lugar?

Há muitos anos, como conta minha mãe, esse imóvel era uma estação de trem que acolhia seus viajantes e seguia seu destino para outros municípios em cima das trilhas de aço, conectando famílias, amores, trazendo e levando muitas histórias que serviriam para boas e más recordações.
Com o passar do tempo e evolução das cidades, muitas estações deixaram suas funcionalidades, sendo transformadas em locais apenas para visitação, um patrimônio tombado ou até mesmo moradia. Um local útil para continuar mantendo seus traços históricos, etc.
Depois de muitos anos esse mesmo lugar veio a se tornar uma casa e, ao mesmo tempo, um templo religioso, um dos mais conhecidos da nossa região, recebendo visitantes de toda a redondeza. Esse local também fazia parte de uma federação, tendo seus cuidadores, sendo o templo religioso, à época, administrado por João Felício (o que me conta nas lembranças de minha mãe). Lembro-me de, ainda criança, ter ido várias vezes a esse local para receber um benzimento, uma reza e proteção.
Como se vê, temos em nosso município um local histórico, repleto de boas lembranças que podem ser contadas pelos munícipes, sendo também possível visualizar esses fatos pelas marcas registradas em suas paredes. Sem dúvida, podemos afirmar o quanto esse local é carregado de informações que poderiam ser utilizadas para a narração de uma história com mais clareza. Pode-se dizer também que esse local é marcado por ter sido um Templo de Religiões de Matriz Africana, se estendendo a Umbanda, religiões que devem ser respeitadas como as outras, pois trazem marcas, histórias de fé e superação…
Meu foco aqui, todavia, não é debater ou discutir religião, mas, sim, ressaltar a importância da preservação de todo e qualquer local com conteúdo histórico-cultural, pois todos eles carregam consigo histórias importantes, podendo até mesmo ser assunto atrativo para pesquisadores ou pessoas que tenham o simples interesse em conhecer um pouco mais de seu passado, ou seja, saber mais sobre a cidade onde nasceu, cresceu e está vivendo. Afinal, cada local tem sua história, vivida por gerações diferentes, o que implica afirmar que, com isso, conseguimos tirar bons ensinamentos, grandes histórias e outros proveitos.
Com o passar do tempo, estou notando que, cada vez mais, nossa identidade cultural está se perdendo. E nosso município há anos deixou de ser reconhecido pelo plantio de algodão, de café, permanecendo somente a cana. Muitas vezes me perguntam pelo que nossa cidade é reconhecida, e eu sempre dou a mesma resposta: “Olha, antigamente era reconhecida como um município de lavoura rica em plantação de algodão, café e cana (o que permanece), porém hoje…” Logo em seguida me calo, porque realmente não sei qual é a nossa característica cultural ou até mesmo turística.
Volto a repetir: “Estamos perdendo a nossa identidade. ”
Não adianta apontar somente um culpado, até porque sempre digo que a culpa é de todos. Vejamos:
A culpa é da população por não ter consciência da importância da preservação de um patrimônio público, bem como por não manter o seu cuidado, pois muitas vezes acha que, por estar “abandonado”, o local é de descarte de entulhos, lixos, etc., valendo a pena registrar que lixo em locais assim é o que mais tem.
A culpa é dos responsáveis pelo município, que muitas vezes não tem uma organização adequada, como, por exemplo, mapeamento e exposição de cada lugar histórico, mostrando o “antes”, o “durante” e o “depois”, ressaltando a importância de sua existência no município como e o quanto essa existência contribui para o levantamento e mapeamento de fatos e dados históricos.
A culpa é do governo estadual ou federal por muitas vezes não atender as secretarias municipais com excelência e demorar no retorno quando o município solicita restauração de um patrimônio cultural.
A culpa é dos inúmeros empresários de grande porte que não se preocupam em incentivar a cultura, o esporte e, principalmente, em investir recursos na preservação de patrimônios.
Enfim, aponto que a culpa é de todos os que não se preocupam na preservação de um local em que há história, cultura e memórias, que podem agregar com dados de suma importância para marcar e desenvolver uma população, sobretudo aquelas pessoas que veem esses lugares apenas como “locais abandonados”.
Volto a enfatizar a minha preocupação com a perda da nossa identidade cultural. Creio que muitos têm fotos desse local, pois sei que hoje se tornou um grande cenário para fotografias. Sei também que daqui a algum tempo será apenas cenário de boas lembranças, eis que, pela ação do tempo, vem se deteriorando, o que, evidentemente, acontece com todo patrimônio abandonado.
Deixo claro que não venho apontar ou acusar quem quer que seja, mas, sim, apenas trazer um momento de reflexão para que possamos valorizar cada lugar que passamos. É importante que coloquemos em pauta a importância dos cuidados que se deve ter com patrimônio como o aqui mencionado, procedendo a levantamento de dados importantes que poderiam ser expostos em locais de fácil acesso a todos que queiram saber um pouco mais de sua existência, pois vale a pena lembrar que um povo sem cultura é um povo sem história.
A título de curiosidade, gostaria de saber a quem pertence esse local, pois, apesar das informações que busquei, não consegui obter resposta a essa indagação.
E, para finalizar, deixo aqui estas perguntas: Você conhece esse lugar? Tem algum fato histórico para contar? Tem alguma foto para mostrar?
Texto e foto: Uilson Félix, colaborador

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